Nesta semana, comemoramos 75 anos do curso de Ciências Contábeis no Brasil. De 1945 para cá, o ensino contábil passou por grandes transformações. Com a disseminação de mestrados e doutorados em Contabilidade, a partir da Lei n.º 9.394/1996, os professores passaram a se dedicar integralmente à docência e à pesquisa, fato este que impactou diretamente os indicadores de qualidade da educação superior. Além disso, ainda na década de 90, houve um aumento expressivo na oferta de cursos superiores no Brasil.
Eliseu Martins, professor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEAC/USP), Doutor em Contabilidade e Controladoria e Detentor da Medalha João Lyra, participou ativamente dessas mudanças. O responsável pela reformulação do currículo de Ciências Contábeis, na década de 80, diz que a nova geração vem sendo mais bem instruída por conta das expectativas para a profissão e da formação técnica, científica e cultural dos docentes. “A Lei das Sociedades por Ações, de 1976, foi um salto espetacular tanto no ensino quanto na prática da Contabilidade, e a introdução das normas internacionais está produzindo um avanço ainda maior”, acrescenta.
Para ele, a formação técnica é obrigatória para um bom profissional, mas não é suficiente. “Hoje a interdisciplinaridade é fundamental. O contador deve se entrosar muito bem com a linguagem e os conceitos da Economia, do Direito e da Tecnologia da Informação, além de manter um esforço pessoal muito grande no âmbito do relacionamento humano”, afirmou Eliseu Martins.
A mesma visão é compartilhada pelo contador e presidente da Trevisan Escola de Negócios, Antoninho Marmo Trevisan. Com 50 anos de carreira e personalidade contábil do ano de 2020, indicado à condecoração Mérito Contábil João Lyra, ele acredita que o mercado demanda um novo tipo profissional. “Atividades que antes eram repetitivas estão sendo produzidas por softwares. Por esse motivo, hoje em dia, existe uma preocupação de os currículos trazerem temas, como inteligência emocional, inovação tecnológica, algoritmos, business intelligence, ciência de dados e planejamento estratégico”, pontua.
Aécio Prado Dantas Júnior, vice-presidente de Desenvolvimento Profissional do Conselho Federal de Contabilidade (CFC), afirma, por sua vez, que a natureza da área é dinâmica. Por isso, a atualização rotineira é necessária. “Estudar, nesse sentido, significa estar pronto para encarar os desafios cotidianos com excelência e para oferecer um serviço de qualidade para os clientes”, reflete.
De acordo com dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep) divulgados em 2019, o curso de Ciências Contábeis ocupa a quarta posição entre os mais procurados. Atualmente, das 2.364 instituições de ensino superior do país, quase metade ofertam a graduação.
Ricardo Pocetti faz parte dessa nova geração. Formado em 2015, a inspiração de seguir a carreira veio com o pai Eduardo Pocetti, que também é contador e possui um grande legado na área contábil, com participações em entidades como o Instituto dos Auditores Independentes do Brasil (Ibracon) e o Grupo Latinoamericano de Emisores de Normas de Información Financiera(Glenif). “Meu pai se aposentou da carreira de auditor e eu estou trilhando carreira solo. Escutar uma pessoa mais experiente na área, mais vivida na profissão sempre ajuda. Não é questão de ser mais esperto, mas de carregar mais bagagem, e isso me ajudou muito a ser sagaz e observador em certas situações. O conhecimento que se passou, para mim, foi e continua sendo muito valioso”, ressalta.
O contador Ricardo Pocetti afirma que a classe contábil está muito diferente da geração de seu pai e acredita que os avanços na profissão são cada vez mais enriquecedores. “A profissão evoluiu muito e se modernizou; a contabilidade no Brasil se adequou a normas e padrões internacionais. O que o meu pai viveu nos anos 80, 90, por exemplo, não é o que um estudante atual está vivendo. Por isso, é importante lembrarmos que muito do que se passa nesta questão geracional é experiência de vida, e nós precisamos nos reinventar a cada dia; precisamos estar capacitados e preparados para os desafios futuros, porque a contabilidade é um serviço inesgotável”, garante.
Comunicação CFC
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